segunda-feira, 12 de maio de 2014

Frozen e o Efeito Sombra

Bom... já faz um bom tempo que eu vi esse lindo filme, mas só recentemente me veio a ideia de fazer esta análise. Inicialmente, eu pensei em escrever para o meu blog da "vida real", mas depois de refletir, concluí que teria mais a ver com o contexto deste por qual vos escrevo.  Uma vez me ensinaram que, ao fazer a análise psicológica de uma obra artística, deveríamos observar todos os personagens, cenários e situações como característica de uma só pessoa. Então é mais ou menos isso que vou fazer neste post.


Aliás, devo acrescentar que vale muito à pena assistir a esta análise da icônica cena da música Let it Go antes mesmo de continuar com este texto. E para quem não viu o filme ainda, recomendo que não leia este post. Pode ser que em alguns momentos eu precise fazer um spoiler para fundamentar um argumento, então prossigam por sua conta em risco. Se você já viu o filme, pode pular este próximo parágrafo.

Frozen conta a história das irmãs Elsa e Anna, princesas de Arendelle. Elsa, a primogênita, nasce com o curioso poder de manipular o frio (cryocinese). Mas na infância, Elsa acidentalmente acerta a cabeça de Anna com seu frio durante uma brincadeira. Os pais levam a pequena Anna em trolls mágicos, que salvam sua vida, mas têm que apagar as suas memórias do poder de gelo de Elsa. Eles advertem: sorte que ela foi atingida na cabeça, pois a cabeça é fácil de mudar. Caso fosse atingida no coração, o caso seria muito mais difícil. Além disso, Elsa deveria aprender a controlar os seus poderes, para que não causasse mais estrago com eles. Assustados, os pais, em vez de tentar ensinar o controle, resolvem isolar e esconder. Fecham as portas do castelo para todos, exceto alguns pouquíssimos criados; separam Elsa e Anna do convívio e escondem os poderes de Elsa de tudo e de todos. Num acidente durante uma viagem dos navio, os pais de Elsa e Anna morrem. E as ordens permanecem: os portões do castelo só devem ser abertos no dia da coroação de Elsa, em seu 18º aniversário. Quando chega o dia, logo após a coroação, Elsa acaba perdendo controle de seus poderes, lançando gelo pra todo o lado. Logo se vê obrigada a fugir. Sem saber, acaba deixando o veranesco reino de Arendelle imerso num inverno sem fim. E é então que começa a história: a busca de Anna por sua irmã, para recuperar seu amor, salvar Arendelle e convencer a todos que ela não é uma bruxa má.

A Sombra é aquilo que não queremos ser, mas somos. Aquelas características que consideramos reprováveis em nós mesmos, que não são dignas de uma "pessoa boa", de um "cidadão de bem" e, portanto, tentamos esconder do mundo. Frequentemente, escondemos tão bem que nós mesmo ignoramos e não temos conhecimento a nível consciente da nossa própria Sombra. E gastamos tanta energia para esconder essa Sombra, que acabamos minando nossas forças para crescer e prosperar. A negação é tão grande que começamos a condenar essa características em outras pessoas, e esses defeitos se tornam muito mais gritantes e relevantes que outros reais defeitos ou até mesmo as qualidades dos outros. Isso se chama projeção.

Exemplo: Fulaninha da Silva sempre se esforçou para ser uma pessoa boazinha. Era dócil e afável. Nunca concordava com o que os outros diziam, mas ficava calada e fazia apenas o que lhe era competido. E ainda ficava falando mal dos chefes fora do expediente. Sempre teve uma vida mais ou menos e nunca entendeu como aquele incompetentes dos chefes dela, que só sabiam dar ordens e não faziam nada, só subiam na hierarquia da empresa, enquanto ela ficava pra trás. Um dia, por um acaso do destino, descobriu que ela própria era mandona. Naqueles momentos da mais profunda depressão ou as raríssimas ocasiões de euforia eram justamente quando essa característica mais aparecia. Lutou muito contra isso, não podia aceitar! Uma pessoa boa não deveria ser mandona. Depois de muita terapia e auto-reflexão, conseguiu aceitar esse fato. E não apenas aceitou, como apropriou-se dessa característica, que sempre foi tão sua. Ela então aprendeu a mandar. Não só a mandar, mas descobriu-se uma excelente líder. E então ela começou a se destacar e logo atingiu os mais altos cargos de sua empresa.

Resumindo: a Sombra não é algo ruim. É algo que você PENSA que é ruim. Tal qual o poder de gelo de Elsa. A futura rainha é levada a acreditar que seu poder é algo vil e condenável. Mas isso não é a verdade. Eu posso citar uma lista de coisas boas e construtivas a se fazer com um poder desses e olha que nem enumero habilidades estilo Bobby Drake. Porém, Elsa nunca se deu a oportunidade de refletir acerca das próprias qualidades. Os pais de Elsa seriam como o nosso superego, que define o que é certo e errado para o convívio social. Mesmo reprimindo os poderes, eles nunca pararam de crescer. Não há o que pudesse ser feito para evitar. E sua negação foi tão grande e durou tanto tempo, que o resultado não poderia ser outro: uma revelação explosiva. Não só ela perdeu controle, como jogou um inverno eterno sobre seu próprio reino, sobre o seu próprio coração.

Ainda em negação, mas aprendendo a aceitar sua condição, Elsa parte para o isolamento. Acredita que, fugindo do seu passado, do seu reino, fugindo de quem é e de quem sempre foi, vai trazer bem e paz não só a si, como a todas as pessoas. Não precisava mais se esconder, mas ainda precisava se isolar. Ela ainda não sabe, claro, do inverno eterno ao qual condenou seu reino. E quando aquela parte de si que tem esperanças, que nunca duvidou da sua competência e capacidade (o oposto da sombra, a Luz), aqui representada por sua irmã Anna, consegue alcançá-la e alertá-la de como está seu reino, tudo o que ela consegue fazer é continuar com a própria negação, e assim, fere gravemente a própria irmã. Outra vez, sem ter conhecimento, pois estava de costas quando seu raio de gelo a atingiu no coração. E ainda expulsa a irmã e manda um monstro de neve "acompanhá-la à porta", crendo que isso é o melhor para ambas. Novamente, o Efeito Sombra prega uma peça em nós. A energia gasta em esconder e fugir, não faz nada além de ferir a nós mesmos e, mesmo que não saibamos, àqueles que nos amam e se importam conosco.

Kristoff, o mocinho da história, que ajudou Anna a alcançar Elsa, leva a princesa caçula a seus amigos, que podem ajudar. E quem são esses amigos??? Os mesmos trolls que salvaram Anna da primeira vez, claro! Eles, desta vez, não têm como ajudar a princesa. Ela iria continuar gelada até finalmente se tornar uma estátua de gelo. Somente um ato de amor verdadeiro poderia aquecer um coração congelado e reverter os efeitos. Eles então partem de volta para Arendelle, pois Anna acredita que esse ato é um beijo do príncipe que ela acredita ser seu verdadeiro amor, Hanz.

Bom, tudo agora caminha para o clímax do filme, o que é muito legal, mas não é tão interessante para esta análise. Resumindo: Elsa é capturada, levada de volta a Arendelle e presa na masmorra e difamada como bruxa. Anna volta, mas descobre que Hanz é, na verdade, o vilão da história, que quer tomar o reino para si. Kristoff tenta salvar Anna, mas a princesa se sacrifica para salvar sua irmã do golpe de espada de Hanz. É então que a mágica acontece. O prazo de Anna termina. Ela se transforma numa estátua de gelo indestrutível, que despedaça a espada de Hanz e o repele. Elsa chora sobre a irmã congelada, mas logo a maldição é quebrada e não só Anna, como todo o reino descongelam. E a rainha descobre a chave para controlar os seus poderes: o amor. Tudo acontece de forma que o reino todo possa ver quem é o verdadeiro vilão da história.

A moral é: não adianta fugir de nós mesmos. Isso só traz sofrimento. A chave para o sucesso é abraçar a nós mesmos e aceitar nossos "defeitos". Pois até algo destrutivo como o poder de manipular gelo pode trazer felicidade e vida (ex: Olaf). Assim, o reino de Arendelle nunca mais sofreu os temores de um inverno, pois a Rainha das Neves estaria lá para proteger e ajudar a todos. O que nos resta é refletir e descobrir quem somos, para que não possamos nos ferir e e machucar aos outros, e sim crescermos e ajudarmos a construir um mundo cada vez melhor, mais cheio de vida, felicidade e paz.

---

Bom, pessoal. Por hoje é só. Figou gigante, né? Ainda tem coisa que eu quero discutir sobre esse filme, então vou tentar escrever ainda outro texto (menor da próxima vez, prometo) e aí talvez fique mais claro porque eu postei isto aqui, e não no meu blog da vida real.

Não, eu não gosto do Olaf. Detesto aquele personagem. É o ponto baixo do filme. Ele é tão irrelevante que eu  nem precisei citar ele para contar a história, só quis mencionar para ajudar no argumento, mas realmente não era necessário.

Eu queria agradecer a algum leitor do blog do Peter que postou o vídeo da análise do Pablo Villaça em um comentário. Mas não vou poder citar quem é, pois, infelizmente, ele fechou o acesso ao blog dele :/
(Que fique bem claro que isto não é uma alfinetada. Eu entendo por que ele faria algo assim)

A propósito, aconselho que se informem mais sobre o Efeito Sombra. Tem o documentário no Youtube e você acha facilmente o livro em PDF numa busca no Google. O livro tem três partes. As duas primeiras são muito legais, mas achei a terceira exageradamente auto-ajuda, cansei e não li mais. Mas recomendo a leitura do resto.

Que beijos e abraços aqueçam o coração de todos neste delicioso frio de outono.

até a próxima!

2 comentários:

  1. Ainda não vi o filme... o povo gosta mesmo desse frozen hauhauhauh eu prefiro Aladin kkkkkk

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Hahahah. Aladdin é muito massa mesmo. Mas eu prefiro Rei Leão :p
      Dá uma conferida em Frozen, cara. Não é o melhor filme da Disney, mas tá bem alto na lista.
      abraço

      Excluir